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Publicado: Quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Eleições na rede. Quem curte?

A corrida eleitoral 2012 está só no começo e já é possível perceber que as redes sociais serão fundamentais para os candidatos. Liberadas em 2010, esta será a primeira vez que postulantes a vagas no Executivo e Legislativos municipais terão a chance de divulgar suas propostas e projetos por meio de perfis online. Não que isso signifique que a internet vá superar a propaganda feita no modo tradicional, ou seja, na televisão, no rádio e nas ruas, mas o fácil acesso ao candidato poderá (poderá!) enriquecer a disputa.

 A questão é que, apesar de os candidatos divulgarem suas campanhas internet afora, desde que respeitem as regras impostas pelos Tribunais Regionais Eleitorais, os eleitores têm nas mãos o poder de dissipar um requerente (qualquer que seja) a um cargo municipal – para o bem ou para o mal.

Isso é bastante assustador!

Considerando que a netiqueta (aquelas regrinhas básicas de etiqueta para serem aplicadas à internet) não atinge de maneira substancial os usuários da rede – basta ver o grande número de pessoas que compartilha no facebook fotos de animais maltratados ou de crianças doentes, por exemplo – será que essa liberação é saudável para o processo político brasileiro?

Trabalhei durante um ano como editora de política em um jornal do interior de São Paulo e, por conta do ofício, assistia às sessões da Câmara Municipal semanalmente. Pouco antes tive o prazer de coordenar uma campanha política em uma cidadezinha do interior de Mato Grosso do Sul e as experiências, somadas, abriram meus olhos para essa questão. Pude ver, por sorte, o processo eleitoral em todas as suas fases: início (a campanha, propriamente dita), o meio (os projetos apresentados em Sessão) e o fim (o desespero daqueles que elegem o meio político como única possibilidade de ganhar a vida e, movidos pela ganância, traçam rotas rumo à reeleição).

O fato é que o brasileiro não se interessa, em sua grande maioria, por assuntos políticos. E com o boom das redes sociais teremos, pela primeira vez, acesso privilegiado à conduta e postura políticas de nossos amigos, vizinhos e parentes. Será possível avaliarmos, a um login de distância, os mais ativistas, os mais passivos e, por que não, os mais desinteressados e revoltados (por exemplo, aqueles que gostam de dizer que voto nulo é voto inteligente).

Hoje cedo deparei com um “santinho” de um candidato a vereador, compartilhado no facebook por uma amiga minha. Aquilo me assustou e me inspirou (afinal, não fosse isso provavelmente essa crônica jamais teria sido escrita). O sobressalto deveu-se ao fato de que essa minha amiga jamais se interessou por política e nunca assistiu a uma única sessão na Câmara. Segundo porque, ao questioná-la (em tom de deboche, confesso), ela revelou que não pretende votar no cidadão (que é candidato à reeleição pela enésima vez, tendo ocupado a vaga na Casa anteriormente, sem nunca ter apresentado, porém, algum projeto de relevância para a cidade).

O motivo para a divulgação, segundo ela, é que o candidato é dentista e está fazendo o tratamento dentário do marido dela gratuitamente. Sim, é isso mesmo. O voto foi comprado pelo preço de um tratamento de canal. É a modernização da compra de votos em troca de dentaduras, comum em eleições no Brasil.

Minha indignação foi notável e, inbox, conversei com ela a respeito. Mas nem o fato de ela ter justificado que não é só um canal (“é quase a boca inteira”, nas palavras dela) suavizou a minha revolta. E tudo ficou ainda pior quando ela garantiu que votará nulo.

Este é só um exemplo do que está por vir. Nos depararemos, invariavelmente, com pessoas que trocam tratamentos dentários por votos. Ou, o que é ainda pior, veremos nossas timelines invadidas por santinhos (que nada têm de sagrados ou celestiais) que serão compartilhados mesmo por quem não tem intenção de voto.

Espero, e torço, para que a falta de discernimento das pessoas na hora de divulgar candidatos nas redes sociais não seja refletido em outubro, nas urnas. Porque senão, minha gente, depois não haverá anestesia que amorteça a inutilidade de alguns eleitos.

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